quarta-feira, julho 29

Sprint II - Janela

Para abrir a janela, empurrei com o pé, pois esta é uma das vantagens de se ter a cama embaixo da janela. Se não é, deveria ser.

A fresta apareceu, e o vento de mínimas temperaturas empurrou a luz pra dentro do quarto, me fazendo apertar os olhos e encolher mais entre as cobertas. Enquanto sentia o cheiro do frio, prédios de Beagá tomavam forma diante de mim, como quando ligamos TV antiga. Há 15 anos atrás, fizera um movimento parecido, quando ainda desconhecia esta cama.

O azul saturado do céu era o mesmo, o vento também, frio. Ainda sonolento, abri a cortina do ônibus, e ainda não havia entendido o que esperar de Belo Horizonte. Na época ainda a chamava de forma respeitosa, pelo nome e sobrenome. Apertei momentaneamente os olhos, encolhi um pouco dentro do meu casaco. Mas logo, a pupila acostumou, os músculos descontraíram, e quando abri os olhos novamente, respirei novo ar. Diferente sim, mas digesta. Ainda assim, continuei sem saber o que esperar.

Felizmente. Dizem que quando criamos expectativas sobre as coisas, os acontecimentos, as pessoas, acabamos por ter desilusões. Quanto mais expectativa, mais monstra a desilusão.

Me foi agradável. Muito mais. E isso também foi inesperado, uma vez que deixava a minha infância e pré-adolescência, meus amigos, enfim, a minha vida inteira até aquele momento para trás. Nasci e cresci em Brasília. Tudo que eu entendia do mundo estava ali. As dinâmicas sociais, as interações interpessoais. O ar e a minha vida material áridos. Depois entendi que não sentia falta de Brasília porque não havia do quê sentir falta. A parte mais importante da minha vida estava vindo comigo, a família. E as coisas que passamos juntos, ainda continuávamos. Falta, só de acontecidos. Da vida, não.

"Mariam parou numa esquina e ficou olhando os passantes, sem conseguir entender como podiam ser tão indiferentes diante de todas aquelas maravilhas que os cercavam".

Fui ao centro da cidade, e tive dúvidas se as ruas nomeadas com nomes dos Estados Brasileiros era uma organização de fato. Eu cheirava a CK One, e com o frio, me sentia um sorbet de limão andante. Na ocasião, quando saí da rodoviária, achei a idéia genial. Bastava desenhar o mapa do Brasil na cabeça, e nunca mais você se perde! Pois assim, a caminho de um recomeço (ah, se eu soubesse...), estava conhecendo não só uma cidade nova, mas o país inteiro. Hoje em dia, eu sei que nos perdemos com ou sem mapas.

Foi lá também que os despertadores chineses entranhados na calçada me clamavam para uma nova vida. "Acorde, garoto. Acabou a brincadeira". Acabou sim, mas a diversão acabara de começar. Diferente da estática burocrática de um distrito federal, a vida permeava pelas ruas sob forma de muitos ônibus e mais carros ainda. Por mais sujo que o chão poderia ser, e o era, o céu azul ainda continuava limpo e lindo. E permitia o sol iluminar o caminho. Foi esta a primeira vez que senti ter feito o certo.

***

Então, era a cidade grande. Cidade grande, com sotaque de Chico Bento. A primeira vez que ouví-los conversar, achei tratar-se de uma grande brincadeira. “Ninguém fala assim... A não ser personagens de quadrinhos e caricaturas”. Pois não era brincadeira, para a minha diversão. Hoje, eu só acostumei.

"Era a primeira vez que Mariam tomava sorvete e nunca teria imaginado que o paladar pudesse experimentar tantas surpresas. (...) Ficou encantada com a textura fascinante, com a doçura aconchegante daquilo tudo".*

Não tinha luzes de néon, nem glamour decadente nas ruas. Mas tudo era novidade. E esta sensação perdurou por anos. Talvez por eu buscá-la com afinco. A signicância desta cidade vai além da sua população e de sua área. As “primeira”s é que eu conto, e estas, eu perdi a conta.

Primeiro carro. Primeira paixão. Primeiro trabalho, primeiro salário. Primeiro beijo (apaixonado). Primeiro trago. Primeira navegação a 28.800. Primeiro e-mail. Primeiro passaporte, primeiro vôo só. Primeiro terno, e a sua gravata. Primeira rúcula com tomate seco e mussarela de búfava. Primeiro Malbec. Primeira tatuagem (ainda na primeira). Primeira saudade de casa, primeira vontade de sair de casa. Primeira desilusão amorosa. Primeira cueca nova (não, essa é brincadeira!). A primeira vez.

Funciona mais ou menos assim: a cada primeira vez, é como se uma nova janela se abre, mostrando novas e outras possibilidades àquela unidirecional que se estabelece com o passar do tempo. Primeiras vezes areja a vida e muda a paisagem, instiga. Assim como cheiro-verde, pode amargar eventualmente, mas na maioria das vezes, veste frescor no sabor e na cor. E depois de experimentar, parece que falta um o quê na comida quando não está lá.

Faço o que tenho que fazer pelos Estados afora, países estrangeiros, e retorno quando o céu é púrpuro. Retorno para casa. A minha casa. Fecho as janelas e escuridão se faz. O céu ainda será azul amanhã.

*Trechos do livro "A cidade do Sol", de Khaled Hosseini.

terça-feira, junho 2

Pode

Minha colheita não tem podão.

Imerso num mar de canas e cheiro de álcool que vem em ondas e marolas, foi apenas um dia desses que consegui presenciar a colheita. Foi também dias passados que, depois de tantos anos feito, assisti "Eu Tu Eles". Sarcástica poesia, o que antes me pareceu depravação moral, no final das contas se mostrou ser uma bonita estória de amor (não tão convencional, devo dizer). O "também" foi pelo cenário em que o filme e eu estamos, não pelo fato de eu ter 3 esposas, quem me dera. Ou não.

Mas na minha colheita não tem podão. No lugar deles, monstros enormes de metal que engolem ruas e ruas de cana e que vomitam a palha que não lhe é digesta. E de suas entranhas, é retirada a cana picada já, em tamanho de um palmo, talvez um pouco maior, já para ser dilacerado e retirado o seu sumo. Não há romantismo, não há a ardência dos amores escondidos, nem da chama que consumia a palha outrora. Agora a lâmina chega sem sentimentos, sem dor, sem cansaço... sem embriaguez. 

Não tem podão, mas tem a mesma luz dourada que o Sol nos envolve, luz que sinto falta quando estou na capital. Aqui tem aquele triste e bonito calor que, não fosse o Velho Chico, estaríamos secos como galhos retorcidos no chão da caatinga. Mas como no filme, a água daqui não presta. Como dizem por aqui,  a água aqui é dura, não doce como deveria de ser. Mas ainda assim, refresca o calor que poderia ser aconchegante, se não fosse forte como abraço desengonçado.

Não tem podão, nem o ritmo que tanto gosto, embalado à zabumba e triângulo. Faz falta, pois o forró é o alívio dos necessitados, a alegria dos sofridos. O forró é o não-trabalho. O forró embala o corpo que ginga, o copo de pinga. E também quisera muitos, nos braços a amada, o amado. Mas no lugar do sopro frouxo da sanfona, tem créis, titanics, mc's... Não tenho ninguém me esperando na janela. Não tenho a doçura do aguardente, nem o amargor do jiló. Só a poeira amarela que levantaria do chão da sala de rebôco.

E nas presenças e ausências de minhas andanças, eu vou assim, construindo minha casa de pau a pique, fazendo um puxado aqui, aumentando uma parede acolá. Tenho a certeza que não pertenço a este lugar, ensaio caminhar outros caminhos, mas acabo voltando e ficando. Até amanhã, até Deus sabe quando. Embriagado pela cana, continuo a amassar o barro com pés cansados. Não é uma eterna construção, isso aqui? Até o dia do nosso fim, em que deixamos a casa do jeito que construímos para quem quiser se adentrar e se sentir aconchegado.

Não tem podão. Mas pode entrar. 

sexta-feira, maio 15

Bar

Poeira eu vi.

Ouvi os pneus cantarem uma Ária, vi a onda de poeira na minha frente, mas estava calmo. Ainda estava escuro, mas tinha virado a cabeça para a esquerda e vi que ninguém vinha em minha direção. Com a desaceleração, virei o volante para a esquerda, e parei na posição em que eu nunca precisava ter mudado: o sentido de tráfego.

Saí do carro, respirei fundo. Os batimentos cardíacos sequer aceleraram, e já voltaram ao normal. Chequei se havia estourado algum pneu, chequei os freios, pensei ter cochilado, mas lembro de cada movimento do carro antes de rodar. "Foi o carro", tive certeza. Meus companheiros de estrada deram a volta e pararam para me acalmar, sem necessidade. Seguimos em alguns segundos.

Comparar a vida a uma viagem é superlativo de clichê. Enquanto o carro ainda me traía a direção, tentava manter o volante e o pensamento firmes. Mas o clichê me fez sentido, e segui por este caminho. Mas diferente daquelas da CVC, iniciamos a nossa viagem despidos. De tudo. E é em turnê que arrumamos a nossa mala (aqueles pacotinhos* que sempre falo). Que engraçado, quando a mala está finalmente feita, temos que retornar de onde viemos, onde quer que isto seja. Mas esta é uma outra estória.

É no percurso também que aprendemos como funcionamos. Nós somos o meio de transporte, nós somos a máquina fotográfica, nós somos o quarto de hotel quando estamos exaustos. Apenas nós podemos nos fazer seguir. Amigos são como um balcão de bar, onde falamos e escutamos frustrações e piadas, palavras de sabedoria, e às vezes nem tanta. E podemos sempre ter certeza que numa revisita, os verdadeiros estarão lá, no mesmo balcão. Mas somos nós quem estabelecemos o nosso roteiro a seguir, e seguimos se assim decidimos.

Se nós somos um carro, a nossa cabeça e coração são as barras estabilizadoras. Se estamos bem, a vida pode ser um eterno rally, e ainda assim, conseguimos chegar onde queremos, sentindo pura diversão. Mas se estamos fracos, a viagem pode ser uma reta até o horizonte, e qualquer ondulação nos joga para fora da pista. Assim como aconteceu comigo momentos antes. Nas curvas, fiquei pensando se eu estava bem. O carro, tinha certeza que não.

Como na vida, tivemos um pequeno e inesperado desvio de rota, felizmente. Nos perdemos, como era de se esperar. E tivemos que perguntar as direções para um vesgo em cima de uma carroça velha, puxada por um jumento velho. Seguindo as suas indicações, a estrada era mais bonita, melhor conservada onde tinha que ser, e tinha muita terra onde queríamos sentir um pouco de adrenalina na veia. Era tudo diferente, não-planejado. Sentindo-me culpado por julgar o bom senhor na carroça, finalmente consegui entender quando estávamos em paisagens conhecidas: ele não precisava enxergar com seus olhos. Sua barra estabilizadora estava em condições perfeitas. 

quinta-feira, abril 30

Sprint

- E há quanto tempo você está aí?
- Ah, tem mais de ano já!..
- Ah é?.. Tá gostando daqui?
- Nu cumeço era mais difícil, né? Sintia umas tuntura... falta de ar, uma suadêra...
- Por causa do calor, é?...
- Sintia calor dimais!.. Mas agora já tá mais tranqüilo, né?

É impressionante o poder de adaptação que nós, seres humanos, temos. É quase linda a nossa capacidade de nos ajustarmos aos estímulos do exterior, e não estou falando apenas de graus Celsius. "Talvez" por uma questão de sobrevivência, e (in)felizmente, a gente se tuna para continuar... Vivo, feliz (?), estático, indo, -ando. Para perpetuar a nossa linhagem. Ou talvez para coisas beeem menos importantes.

As minhas andanças pelo norte de Minas, por exemplo. Na primeira vez, a primeira coisa que eu estranhei foi o maldito meio de transporte. O que eles chamavam de avião, era na verdade um ônibus alado. Sério. Para mim, aquilo era um Circular com asas, porque o número de assentos é o mesmo, o tamanho é o mesmo, o barulho é de ônibus, talvez pior, e o conforto idem. E o embarque/desembarque, não existe diferença alguma. Se comparado com ônibus na Av. Amazonas na hora do rush.

Eu só sei que o trem de pouso mal toca o solo, as portas já estão prontas para serem abertas, e sabe aquela posição inicial de quem corre os 100 metros rasos? ESTA é a posição privilegiada. Porque quando a porta se abre, aeronave ainda em movimento, as pessoas se jogam para fora, talvez de alívio por estarem vivos depois do trauma. E com freqüência, as comissárias alimentam a fogueira, movimentando o braço circularmente, gritando "Vai! vai! vai! vai!" (do inglês: "Go! go! go! go!"). Enquanto isso, nós que estamos de fora para embarcar, também estamos na posição "sprint". Assim que o último passageiro retardado é empurrado para fora pela comissária, o OK é dado, e corremos para as nossas respectivas poltronas assim como corremos para as montanhas em caso de alguma coisa séria. 

Eu apelidei este processo todo de Pit-stop. Não só acostumei com este processo todo, como hoje em dia sou o primeiro a tomar posição de corrida. Coisas de sobrevivência, sabe. E assim a vida passa, e vamos nos ajustando. Justo?.. Nem sempre. Veja bem:

ANTES: Gente, que cheiro HORRÍVEL é esse de esgoto e cocô de vaca misturado??... Vinhoto??? Que bosta é essa?
DEPOIS: Gente, vamos almoçar?

ANTES: 9 horas de viagem até BH?... Cês tão tudo doido, achando que vou de carro...
DEPOIS: Tem quantas pessoas no Uno? 4 pessoas?.. Eu sou o quinto então!

ANTES: 9 horas de viagem até BH?... Cês tão tudo doido, achando que vou de carro...
DEPOIS: Então... vou comprar um carro pra eu poder voltar a BH com mais freqüência, sabe como é, né?

ANTES: NUNCA precisei!.. TV não me faz falta nenhuma!
DEPOIS: Aaahrê, Bába! Esta Maya é bonita mesmo, tik?

ANTES: Eles chamam isso de marmita? Isso é lavagem!!
DEPOIS: Você vai comer este restinho aí?...

ANTES: NUNCA precisei!.. TV não me faz falta nenhuma!
DEPOIS: Olha... o batimento cardíaco da Priscila tá bem mais alto que do Max...

ANTES: CORRAM PARA AS MONTANHAS!.. A casa está sendo invadida por morcegos!!!
DEPOIS: Ow, deixa o morcego em paz, ele não te fez nada!...

ANTES: Meu Deus!... Quanta gente feia aqui!
DEPOIS: MEU DEUS!... QUANTA GENTE FEIA AQUI!

Não sejamos preconceituosos, nem arrogantes dicotomizando hábitos. Bom ou mau são a definição da subjetividade, e não cabe a nós julgar comportamentos. Mas no decorrer deste depoimento, eu lembrei de uma coisa que um "pensador" (como se isso fosse uma profissão DE VERDADE) falou. Algo como "a pessoa comum tenta se adaptar ao ambiente para viver. E o louco tenta adaptar o ambiente para viver. Mas é graças ao louco que temos progresso, evolução".

Fiquei pensando nisso, enquanto eu sentia o friozinho de Belo Horizonte, o céu azul de todos os anos.

(continua...)

quinta-feira, abril 16

Twitter

só twittando... para quem não tem a menor idéia do que estou falando, é só ver o vídeo que iria mandar de qualquer jeito! (será que vai dar menos de 140 caracteres?) http://www.youtube.com/watch?gl=US&feature=related&v=YgAlE33lCQA

quarta-feira, abril 1

Fanta

Logicamente, estava tonto de sono e cansaço. Sair em viagem de madrugada nunca, nunca! foi uma boa idéia, mas como não era nem para eu estar ali, melhor não tomar parte em reivindicações:

 - O que você acha da gente sair às quatro?

- Às quatro?.. Hum... Eu ACHO que num tem problema não...

- Tá, então a gente sai quatro e meia, pra você não chiar...

- (Úuuuuuuh..... como você é bondoso!...) Nossa, tá ótimo! Estarei às quatro e meia na porta da sua casa.

Escapei a Belo Horizonte sem planejar, sem pretensões, e acabou sendo um longo fim de semana. O mínimo que eu poderia fazer era ser agradecido e político. Já era madrugada de quarta-feira, e no horário combinado, estava no local combinado. A primeira coisa que fiz ao entrar no carro foi chover. E assim chovendo, partimos.

O carro popular sem climatizador permitia que a nossa visão ficasse embaçada permanentemente, e como nos bons velhos tempos, limpávamos o pára-brisa com uma flanela freneticamente, de três em três minutos. A noite estava ainda mais escura com as nuvens de chuva, por isso da direção cautelosa. Fazia força para me manter acordado, e conversávamos de octanagem dos combustíveis. Com os olhos, seguia a lanterna traseira do caminhão que andava a mais ou menos 50 metros de nós.

Distraído, acompanhei os pontos vermelhos dançar para a esquerda e desenhar no ar abstratamente novamente para a direita:

 - Bateu!

Só assim acordei da minha distração, e associei o barulho que ouvi um segundo atrás ao choque entre dois metais. O carro foi desacelerando, o caminhão à nossa frente já estava parado no acostamento, uma nuvem de vapor nos envolvia. Quando quase em repouso, vi passar lentamente o outro caminhão no lado esquerdo, parado, destruído. A cabine estava afundada do lado do motorista. Não havia espaço entre a lataria destroçada e o banco para uma pessoa sentada. Não sabia no quê pensar. Proposital ou não, paramos depois que passamos deste mesmo veículo. Vi escorrer um líquido vermelho no chão, sendo diluído pelas gotas de chuva que caíam, e também pelo escoamento desta mesma água. Nossa intenção era de parar para ajudar, mas vendo isso, ele contornou o acidente e arrancou com o carro: “Sabe o diesel que estava escorrendo?.. Qualquer faísca a gente ia parar no céu, literalmente”. Não sei se ri da piadinha fora de hora, ou do desespero que a hipótese me trouxe.

Depois de alguns minutos em silêncio, tentamos retomar a conversa, mas não foi a mesma coisa. A toda hora, tentava pensar no que aconteceu como algo distante, nunca vai acontecer comigo, repetia para mim várias vezes. Mas a cada caminhão que cruzava por nós na estrada, segundos de tensão me paralisavam, até que o dia clareou, e para a minha tranqüilidade, também a chuva cessou.

O fato é que ele já estava chegando em Belo Horizonte. Enfrentou a noite e a chuva para chegar mais rápido, ao amanhecer. A pressa talvez seria para ver a família, os filhos. Talvez não a tivesse, e queria só descansar, ir à zona da cidade para gastar todo seu dinheiro de rapaz trabalhador. Tomar aquela cerveja às oito da manhã, e depois arrumar um quarto no centro da cidade para dormir até a próxima viagem. Continuar com a sua vida, pô.

Mas talvez ele batesse na mulher e abusasse da filha pré-adolescente. Estava virando a noite no volante porque, como sempre, perdera muito tempo tomando pinga na beira da estrada. Provavelmente estava embriagado, e não viu o outro caminhão invadir a sua faixa.  Não escolheu ser caminhoneiro, teve que sair de sua cidade, pela polícia e inimizades.

Mas não tenho certeza do quê poderia justificar a perda da vida.

O sol não estava mais a vista, mas o dia era claro. O céu bonito, parece que típico desta região. Tomava quase todo o céu um laranja claro, cor de Fanta em camiseta branca. Treze horas depois de iniciar a viagem, finalmente olhava novamente para paisagem familiar. O carro ainda engolia o final da estrada, mas eu não estava cansado de pensar. Pensava no valor que não damos à nossa vida. Tão pouco valor, que temos raiva quando chega um email de auto-ajuda para nos lembrar que a gente precisa dar valor à vida. Eu, por exemplo, tenho ódio, e apago antes de abrir.

Dura o mesmo tanto, na verdade. Um segundo para deletar uma mensagem com trilha sonora de Pachabel e textos duvidosos de Carlos Drummond, um segundo para morrer. Justiça seja dita, o motorista do caminhão, mesmo são, não teria tempo para desviar do choque. A freada brusca em chão molhado até a cessão dos virabrequins durou uma batida de coração. Sem tempo para arrependimentos, sem tempo para despedidas, nem para uma última tragada no cigarro. Ciao. Simples assim.

Tenho tempo de menos. Quero fazer coisas que me fazem bem. Quero estar com quem me quer bem. Não quero gastar este tempo com pessoas e coisas que me cansam, e sim, que me treinam na corrida da vida. Pois treinar é bem diferente de cansar em uma esteira. Deletei do meu celular os números, deixei só os meus contatos. No sentido estrito e primário da palavra, não significando networking. Números só são importantes no Orkut, Facebook, Wayn, Estou Aqui, Cá Estou.com, etc. E ainda assim, estou restringindo. Quero o melhor para mim, e para quem me quer. E faço o possível para não cansar essas pessoas.

Maldito acidente. Me fez emotivo e cansativo. Pode deletar.

quarta-feira, março 11

Dedo Opositor

- Não te falei?... Não te falei???... O quê que eu te falei?? Hein?!
- ...
- Eu te falei, você não acreditou, né? Eu não sou bobo, não! Sei das coisas!
- Ô moço. Mas podia ser umas raposas, elas vêm aqui para comer as bananas no pé mesmo...
- Mas não ia fazer aquele barulho esquisito, aquele ronco.
- Bom, isso é verdade.
- E o cheiro?...
-Ah, é. O cheiro dá pra saber...

***

- Tá vendo ali?
- Ali onde?
- Ali, ó. Na bifurcação da estrada, lá na frente. Ali...
- Tô vendo.
- Então, foi ali que eu vi...
- Mas ALI?
- Pois é, mas já era noite, passava menos carro.
- Não acredito nisso... tão perto da gente...

***

- Eu reconheci o cheiro na hora que senti. Pois então? Saí da casa pra fumar, era umas duas horas da manhã. De repente eu ouvi umas pancadas secas no chão, umas pisadas fortes. E uma respiração seguido de uns roncos bem esquisitos, grumf, grumf. A mata começou a mexer, aí fui correndo pra dentro de casa.
- Aaah! Então você está adivinhando, né?
- Não tem jeito de ser outra coisa, aquele cheiro de carniça!

***

- Lá na casa 1, lá em cima, tinha um cachorrão preto. Sempre ficava lá, a gente colocava comida pra ele. Ih, tava aqui com a gente fazia um tempo já! Um dia a noite eu tava aqui fora limpando as panelas, e vi ele passar para lá, pra aquela direção ali, pro mato. Depois desse dia, nunca mais ninguém viu ele.

***

- Você sentiu o cheiro daqui?
- Claro! Cara, não tem jeito. Aquele cheiro de carniça forte, nossa... quase fiz vômito.
- Eu acho que era de medo, e não do cheiro.
- Engraçadinho. Queria ver você naquela hora... Gente, por quê que a escuridão tá mexendo?
- Cadê?
- Ali no canto... ali!
- CACETA!.. Olha o tamanho da aranha!!!
- Meu Deus! É uma caranguêja...
- Tá vindo pra cá tá vindo pra cá!..
- Me dá a vassoura! Rápido!
...
- Eca, mas que merda você fez no chão hein? Precisava?..
- VAI que ela não morre e sobe pela vassoura e me mata?
- Meu Deus, que drama.
- Você tá vendo o tamanho dessa aranha? Ela cobre a sua cara fácil se tiver aberta.
- É... pensando por este lado, ficou um pouco aterrorizante.
- Aterrorizante foi ouvir a onça zanzando por aqui perto da casa. Vai que ela cisma de entrar na casa?
- Ah, é verdade. Eu esqueci que onças têm mãos e dedo opositor para segurar a porta e empurrar para os lados.
- Assistiu a “Ilha das Flores” também, né, sabichão?
- Mais de uma vez.
- Adoro o filme também, mas não tem nada a ver com a onça.
- Eu sei, só quis aparecer...

***

- Perto, perto.
- E o quê você fez?
- Ué, fiz nada. Tava no carro indo pra lá, a onça lá parada olhando pra mim. Mas quando cheguei perto, ela se assustou com o barulho, e foi pro outro lado. Virei pro meu lado e fui embora!
- Tão perto da gente...

***

- Gatinho!... oi gatinho... cadê você? Vem comer um peixinho, vem!

quinta-feira, fevereiro 19

O Terceiro Elemento

- Eu NÃO ACREDITO que vou passar os próximos meses neste lugar!


Ao som do Léo e do Vítor, os dois sapos pareciam dançar, pois pulavam para lá e para cá no chão em azulejos. Tinha tantos mosquitinhos, besourinhos, insetinhos que é até engraçado falar em banquete. Era mais um vernissage anfíbio. Um aparato caseiro diminuía a sujeira no chão: uma garrafa PET cortada ao meio, amarrada junto à lâmpada econômica chinesa imitava uma luminária de cristal, e também coletava os moribundos alados. Escolhemos a mesa menos suja, e pedimos logo o peixe, já que era para isso que estávamos ali. No restaurante em Mocambinho, o peixe tinha acabado, e só nos restou esta beira de estrada escura.


Ele pediu um fósforo, e a mocinha – gentilmente – tomou o cigarro da mão dele, e foi andando em direção ao isqueiro pendurado no balcão, o barbante encardido. Se no primeiro segundo fui paralisado por descrença, eu já gargalhava enquanto ela voltava com o cigarro aceso na mão, soprando o restinho de sua tragada. Ele se envergonhou por ela.


Eram quase 21:00, e o céu estava salpicado de estrelas. Nos últimos dias, eu já estava ao relento há algumas horas. Os dias mais longos e o calor nos convidavam para o lado de fora, e até o anoitecer, ficávamos conversando borracha, jantando e tomando café, rindo um do outro. O caseiro e sua esposa nos contavam causos simples, e ainda assim, engraçados. Apagávamos a luz da varanda de vez em quando, e as estrelas pareciam cair alguns metros, pois pareciam crescer e brilhar com maior presteza.


Um dia cheguei em casa, e reparei que o caseiro estava um pouco abatido. Antes de eu sentar, ele me estendeu uma bandeja de umbu, docíssimo. Contou que a vaca pariu na noite anterior, mas que a bezerrinha tinha enganchado. Não agüentou, a pobrezinha, mas não levou a mãe junto, Deus é bom. Chupamos umbu e choramos a morte da bezerra. A tristeza não durou muito, pois ele apontou para o horizonte. A lua cheia ascendia incandescente, vermelha. Corri em direção à noite para melhorar a minha visão, ele sentou no chão para rir.


- Eu não acredito que vou passar os próximos meses neste lugar...


Mas talvez o rural tenha perdido o seu charme levemente, quando, num desses momentos crepusculares, vi sair uma cobra coral debaixo da cadeira em que eu estava sentado. O pânico não chegou a incorporar, mas devo confessar que fiquei mais receoso de andar por aí depois deste episódio. O pior é que a conversa evoluiu para jararacas, cascavéis e caranguejeiras, todos habitantes das redondezas. No dia seguinte, chegava da portaria a pé, marmita na mão, tudo escuro já. Confundi a sombra da raiz de uma árvore com uma sucuri, mesmo as dimensões da raiz sendo completamente incompatíveis com a maior de todas as sucuris. Gritei por dentro, e corri silenciosamente. Quase larguei a janta no chão. Ofegava quando cheguei em casa, e o caseiro:


- Ôxi, moço. Tá fujino di quê?

- De nada, ué. Aproveitando para fazer um exercício.


Um terceiro sapo entra no salão do restaurante. O antes Vítor & Léo, como resolvi chamá-los, agora era o Trio Parada Dura. Pagamos a (cara) conta, e tomamos o caminho para casa. Parecíamos não sair do lugar, pois a rodovia era reta e sem mudanças. Nem outros veículos. Ao chegar, desci do carro, e olhei para os lados. Só via vento. Balançava os coqueiros, as bananeiras, o canavial. Olhei para cima, e as estrelas. A paz. Acreditando ou não, eu ficaria. Sorri, e fui dormir.

quarta-feira, fevereiro 11

Abre Tus Ojos

Tomamos consciência de que o futuro e o passado se encontram no presente no momento em que partimos. Para ir a algum lugar, para voltar para casa, para ir aos mesmos lugares. Lembramos e buscamos para termos uma baliza para o quê está por vir. E eu estava assim, sem palavras, só pensando.


Na verdade, os preparativos não aconteceram da forma esperada. Muita gente estava indecisa, quem tinha que pagar não havia pagado, outras desistiram, e eu quase. No final das contas, resolvi ir, pois seria esta uma oportunidade de pleno descanso antes de seguir para mais longe, e o ônibus seguiu ao seu destino com apenas 5 pessoas.


Passada a decepção (com as pessoas), estávamos todos ansiosos para chegar. No caminho, lembranças de outras visitas nos fizeram companhia nas curvas e retas escuras, e nos ninaram num sono tranqüilo e otimista. Sono este interrompido já no píer onde embarcaríamos.


Juntamo-nos com dois suecos e um casalzinho em plena lua-doce, e seguimos. E no meio do trajeto, a bióloga resolve nos dar uma pequena palestra.


Ironia, ironia. Enquanto boiando em plena imensidão azul do Atlântico, no meio de onde as águas se estendiam em todas as direções até onde as vistas chegavam, eu fixei meu olhar em um azul mais claro, como água-marinha. E conheci uma das mais interessantes pessoas ao vivo que tive contato. Mestre em Biologia, professora da rede pública Bahiana em virtualmente todas as matérias e todas as séries (devido à escassez de profissionais), ex-surfista profissional, ex-esposa, ex-R.P., quase não estava ali, pois a família precisava que ajudasse nas finanças de casa. E passou sim, por dificuldades. Ainda assim, estava ali a falar sobre budiões, golfinhos e corais como falamos mal dos outros. Nas horas vagas, faz trabalho social, pois diz sentir fazer diferença.


Um anjo. Fisicamente e coraçãomente falando. Um anjo encapetado, devo acrescentar, pois se diverte e ri que nem criança sapeca, ama o que faz como se não ganhasse para isso. Enquanto terminava a sua aula, consegui desviar o olhar, e ver um tapete verde esmeralda nos dar as boas vindas ao arquipélago.


Pero Vaz de Caminha havia aconselhado à Curôa Purtuguesa para abrir bem os olhos quando chegassem a este pequeno pedaço de terra no meio do mar, e como não? Abrolhos é a certeza da existência de Deus, seja lá quem ou o quê Ele seja. Se na superfície, a sua beleza inspira, debaixo d’água ela instiga. Homem não faz isso, nem se tentasse. Se tentasse, haveria McDonald’s e Blockbuster no lugar, e se fossem belo-horizontinos, drogaria Araújo e quiosques de temaki.


Abrolhos foi o primeiro “território” elevado a parque nacional marinho, pelo decreto no. 88.218 de 6 de Abril de 1983. Permanece quase intacta, com exceção dos postos de vigia do Ibama e da Marinha, este último que, pasmem, não tem envergadura para cuidar da parte MARINHA do parque, apenas na parte da defesa (em caso de guerra). Já que é assim, eu dei a sugestão de chamar o Exército para cuidar dos peixes, não sei se eles acataram as minhas palavras com satisfação. Há também o farol, que daria por si só uma extensa descrição muito interessante do seu funcionamento e de sua história. Mas além de ser provável assunto para a posterioridade, eu não prestei muita atenção no sargento. O pôr-do-sol estava logo ali, seduzindo todos os meus sentidos.


Numa dessas noites, talvez pelo embalo do mar, talvez pela caipirinha, eu e os suecos nos perguntamos o quê havia acontecido com a nossa energia infantil que não apenas nos impulsionava para o desconhecido, como nos fazia achar graça e gosto em todas as situações. Talvez pelo mar, talvez pela caipirinha, respondi que se levarmos Lavoisier em consideração, essa energia havia se transformado em experiências e conhecimento. O nórdico concordou, e acrescentou: “A gente está gastando quase toda a energia que nos fazia ir no pensar e avaliar, e acaba por não fazer”. Olhei para fora, a lua cheia distorcida pelas marolas. Maldita caipirinha.


Agora o mar era escuro. Um azul profundo, contrastante ao céu, que pendurava alguns nimbos ameaçadores. O sol incendiava o horizonte com um laranja quase inolhável, mas ainda assim trazia tranqüilidade para quem o encarava. O continente começava a despontar no horizonte. E o perfume salgado do mar vinha se despedir. E eu estava assim, sem palavras, só pensando.

terça-feira, janeiro 27

Doppio

Enquanto os fogos de artifício simulavam um bombardeio aéreo, a crise internacional havia se instalado em terra. Os projéteis de cortiça deixavam as suas garrafas de espumante para cortar o ar salgado da praia e acertar quem fosse herói naquele momento. O incidente diplomático poderia ter tomado menor magnitude, mas o relógio mostrava a primeira hora do ano, e enquanto outros faziam promessas irrealizáveis, Croácia desembarcava na nossa Normandia. Seis pessoas desconhecidas dentro de uma mesma casa por dias não poderia ter tido desfecho diferente. Mas é a paz que importa, não a guerra.

No meio do caos, olhei para o alto e vi peônias coloridas, o fundo negro. Havia tantos sons acontecendo ao mesmo tempo que eu conseguia ouvir apenas o silêncio. Como o catavento colorido que gira rapidamente, e no final se vê apenas o branco. Branco este que dominava a praia, pois todos queríamos paz. Branco eram também as flores que Iemanjá ganhava, mas em troca de amor, fortuna, maridos e mulheres. Branco da espuma das ondas que pulávamos com um pé só. Será que as menorzinhas valiam como ondas? Na dúvida, vamos esperar por uma maior. E das sete, as ondas viravam dez, doze.

De repente, a magia acaba. O funk e a gritaria voltam à minha audição, cheiro de cerveja se mistura com o de água do mar com espumante, e a minha bexiga cheia. Não considero outra opção, e vou caminhando para um lugar mais fundo. Ainda um pouco envergonhado do ato que ainda não fiz, começo a ver algumas pessoas fazendo o mesmo, só que sem pudores, ali em pé, à brisa do mar. Olho para o lado, e mais gente à procura do alívio imediato. Neste momento me pergunto como que eu estava ainda dentro daquela água. E quando resolvo estender o meu olhar por toda a baía, vejo milhares e milhares e milhares de pessoas marcando o seu território. Não importava o sexo, crença, idade, time de futebol. Alguns em pé, algumas agachadas, e outros mais no fundo, como eu. Engraçado isso. Momentos antes, oferecem flores a Iemanjá. Minutos depois, baixam as calças e dão o recado: "... e ISSO é para se você não atender os meus pedidos, porra!".

Depois do que presenciei, eu só tenho uma coisa a dizer: calotas polares, cuidem-se.

***

Se for verdade o que dizem, que a cada despedida, as pessoas levam um pouco de nós, então sou um vazio ambulante. Já passei por tantas, que já posso me dar ao luxo de fingir que não ligo mais. Na minha família, nunca fomos muito emotivos com essas coisas. Porque se estávamos partindo, o motivo estava muito além dos momentos de convivência familiar, e os laços, estes tínhamos (e temos) certeza que nunca serão desfeitas. Meus pais nunca falaram coisas do tipo: "Ah, não vai embora não! Para quê ter um Pós-doutorado em Neurofísica? Não serve para nada! (ainda bem que não foi falado, senão teria que concordar com eles)". Pelo contrário. Eles sempre nos deram força para seguir adiante, buscar por novos horizontes, essas coisas de poesia. E se nós tivéssemos nos limitado pelo medo do novo, nós não teríamos a Samsonite cheia de pacotinhos* valiosos.

Engraçado mesmo é ver a percepção e a reação das outras pessoas em relação ao partir. Já vi famílias inteiras no aeroporto, com balões, apitos, bandas de fanfarra e faixas com os dizeres: "Fulano de tal, nós te amamos!", "Volte logo, você mora no nosso coração!!", "Quer casar comigo?", e assim por diante. Se não me engano, todas as ex-namoradas do cara estavam lá também. Isso tudo porque o rapaz estava indo para a Disney... Tá bom, tá bom... mentira. Ele ia ficar um ano estudando fora. Mas tenho reais dúvidas se estas coisas realmente são válidas ou não.

A partida nunca deixará de doer, isto é fato. Penduramos um sorriso na cara para disfarçar a falta que já faz a comida de casa, as caipirinhas e as cocas que tomaríamos juntos, conversas madrugada adentro, tardes de domingo em silêncio com a família. Doutorado uma ova! Trabalho coisa nenhuma!!.. Eu quero é ficar aqui na vida boa, com minha família e amigos curtindo a zona de conforto!.. Mas... no final do dia, tomamos a decisão de partir, certa ou errada seja. Se já foi difícil optar por ir, eu me pergunto: exatamente COMO que a micareta no aeroporto estaria facilitando as coisas?

Porque a última vez que fiz uma viagem semelhante, minha mãe me levou até o centro, e peguei um Airport Service, porque era mais prático, mais barato, e ela tinha que dar aula e meu pai estava atendendo no consultório.

Peraí... Eu acho...
...
Será que eu sou adotado?

*Pacotinhos: vide Támas I & Támas II

P.S. Tardei, mas não falhei. Sabem como é... férias escolares, festividades de final de ano, trocas de presentes, muitas coisas acontecendo ao mesmo.. Feliz Ano do Búfalo a todos!