quarta-feira, março 11

Dedo Opositor

- Não te falei?... Não te falei???... O quê que eu te falei?? Hein?!
- ...
- Eu te falei, você não acreditou, né? Eu não sou bobo, não! Sei das coisas!
- Ô moço. Mas podia ser umas raposas, elas vêm aqui para comer as bananas no pé mesmo...
- Mas não ia fazer aquele barulho esquisito, aquele ronco.
- Bom, isso é verdade.
- E o cheiro?...
-Ah, é. O cheiro dá pra saber...

***

- Tá vendo ali?
- Ali onde?
- Ali, ó. Na bifurcação da estrada, lá na frente. Ali...
- Tô vendo.
- Então, foi ali que eu vi...
- Mas ALI?
- Pois é, mas já era noite, passava menos carro.
- Não acredito nisso... tão perto da gente...

***

- Eu reconheci o cheiro na hora que senti. Pois então? Saí da casa pra fumar, era umas duas horas da manhã. De repente eu ouvi umas pancadas secas no chão, umas pisadas fortes. E uma respiração seguido de uns roncos bem esquisitos, grumf, grumf. A mata começou a mexer, aí fui correndo pra dentro de casa.
- Aaah! Então você está adivinhando, né?
- Não tem jeito de ser outra coisa, aquele cheiro de carniça!

***

- Lá na casa 1, lá em cima, tinha um cachorrão preto. Sempre ficava lá, a gente colocava comida pra ele. Ih, tava aqui com a gente fazia um tempo já! Um dia a noite eu tava aqui fora limpando as panelas, e vi ele passar para lá, pra aquela direção ali, pro mato. Depois desse dia, nunca mais ninguém viu ele.

***

- Você sentiu o cheiro daqui?
- Claro! Cara, não tem jeito. Aquele cheiro de carniça forte, nossa... quase fiz vômito.
- Eu acho que era de medo, e não do cheiro.
- Engraçadinho. Queria ver você naquela hora... Gente, por quê que a escuridão tá mexendo?
- Cadê?
- Ali no canto... ali!
- CACETA!.. Olha o tamanho da aranha!!!
- Meu Deus! É uma caranguêja...
- Tá vindo pra cá tá vindo pra cá!..
- Me dá a vassoura! Rápido!
...
- Eca, mas que merda você fez no chão hein? Precisava?..
- VAI que ela não morre e sobe pela vassoura e me mata?
- Meu Deus, que drama.
- Você tá vendo o tamanho dessa aranha? Ela cobre a sua cara fácil se tiver aberta.
- É... pensando por este lado, ficou um pouco aterrorizante.
- Aterrorizante foi ouvir a onça zanzando por aqui perto da casa. Vai que ela cisma de entrar na casa?
- Ah, é verdade. Eu esqueci que onças têm mãos e dedo opositor para segurar a porta e empurrar para os lados.
- Assistiu a “Ilha das Flores” também, né, sabichão?
- Mais de uma vez.
- Adoro o filme também, mas não tem nada a ver com a onça.
- Eu sei, só quis aparecer...

***

- Perto, perto.
- E o quê você fez?
- Ué, fiz nada. Tava no carro indo pra lá, a onça lá parada olhando pra mim. Mas quando cheguei perto, ela se assustou com o barulho, e foi pro outro lado. Virei pro meu lado e fui embora!
- Tão perto da gente...

***

- Gatinho!... oi gatinho... cadê você? Vem comer um peixinho, vem!