quarta-feira, dezembro 3

Keynes

Eu nunca vou esquecer de uma aula que eu tive no segundo ano - o chamado ensino médio - em Brasília ainda. A aula era de Filosofia, e conversávamos sobre assuntos diversos, ao invés de apenas nos ater ao "Filosofando", de Marilena Chauí. Nesta aula em específico, falávamos sobre o consumo, a sociedade consumista. A fessôra explicava sobre as disposições dos supermercados e dos shopping centers. Fiquei atônito com as revelações. Muito mesmo.

Já pararam para pensar que as compras essenciais sempre ficam no lugar mais distante da entrada principal de um supermercado? Na época, o Carrefour tinha apenas uma entrada, e desta perspectiva, os pães e as carnes ficavam do lado oposto da entrada. Feijão, arroz, óleo e sal, ficavam no final do supermercado. Antes de chegar à sua cesta básica, você tinha que passar pelas meias, cuecas, camisetas, brinquedos, bicicletas, iogurtes e congelados (FHC ainda não era presidente, então ainda eram artigos de luxo), enlatados, desodorantes e shampoos, chocotales e balas, e aí sim, vitaminas e proteínas para todo mundo crescer forte. Os mais preguiçosos talvez ficassem obesos para sempre. Não apenas isso, as gôndolas eram, e ainda são dispostas de maneira tal que os produtos à mão são os de preço mais elevado. Para pechinchar, os consumidores tinham que se abaixar, ou pegar no alto. Pelo porte, eu sempre abaixava, logicamente.

E ela passou para os shoppings centers. Quanta gente, quanta alegria! É muito difícil de se ver luz natural dentro de um shopping. Por outro lado, o templo todo é intensamente iluminado por uma luz que imita o dia. Desta forma, não se preocupa com o tempo passar, nem se percebe se está chovendo ou não, e se alguém deixou a roupa no varal, já era. As escadas rolantes são estrategicamente posicionados distantes umas das outras. Assim, sempre é preciso passar por uma loja a qual produto apetece. E se alguém se rende e entra na loja, geralmente irá se deparar com uma boa conversa. Se não é boa conversa, é bonita ou gostosa. Falando em gostosa, as praças de alimentação. Quanta coisa gostosa!.. É possível dar uma volta ao mundo em cinco minutos, e escolher em que país comer: Itália, China, Japão, Líbano, Pirapora (eu SEI que não é um país!), vai depender do seu apetite. Para os mais nojentinhos, os Estados Unidos. Tudo muito bem iluminado e climatizado.

Até os banheiros. Pois então. O estacionamento do shopping custa R$ 3,60. O Mocha Ice Blend no California Coffee é R$ 6,90. Revista Auto Esporte custa R$ 9,90. Agora... Refletir sobre a Filosofia do Consumo num trono com ar condicionado e ao som de músicas natalinas não tem preço. O ambiente todo é pensado, meu Deus! "Oh christmas treeeeeee, oh christmas treeeee, of all the trees most lovely!", e eu ali, reinando absoluto, bolava novas teorias Keynesianas.

Vulgar? Imagina! Se eu tivesse pulado a parte dos lavatórios, todos iam achar as teorias lindas. Pois agora elas são lindas e reais. Em tempos noélicos, vale pensar um pouco até que ponto somos o quê o meio quer que sejamos e até onde podemos ser nós mesmos. Vale viver a simbologia da data, mas por que dar presentes só no Natal? Até onde os termos religiosos regem a data e são importantes para a mesma? Jesus Cristo existiu mesmo? Não, essa última é brincadeira... (então, é nataaaaaal... by Simone).

Para constar: 1) Eu terminei o café ANTES de entrar, e; 2) Caso a reflexão seja uma opção, ambientes azulejados NÃO são mandatórios.