segunda-feira, dezembro 22

Beautiful (da série "Reflexões de Natal")

Depois da terceira, caipirinha vira Tang. É benéfico, muito benéfico em vários sentidos. Tem vitamina C, que combate o resfriado, é cicatrizante, ajuda na absorção de ferro no intestino e é essencial na formação de colágeno no nosso organismo. Isso é só o limão. Porque o destilado ajuda na circulação, é vasodilatador, ajudando a combater males coronários. Caipirinha refresca no verão e esquenta no inverno, e como se não bastasse, esta bebida tão nossa, acima de tudo, estreita os laços sociais.

Tesouro nacional, paixão estrangeira, vale 10,00 euros nos melhores restaurantes do Velho Continente. E nós temos a uma distância do próximo buteco. Eu sempre soube, mas não entendia o quê isso significava. Pois saber não quer dizer entender, certo? Precisei de croatas para atiçar a minha compreensão. Está bem, eu confesso... foi da forma empírica. Chegar a este pensamento não foi difícil, pois como disse, não há barreiras para se gostar de uma bebida a 40 graus em graduação alcóolica depois de tomar a terceira dose. Difícil mesmo foi aceitar (no outro dia) que temos o nosso valor material e espiritual reconhecidos no mundo inteiro, mas insistimos em usá-los apenas como copos de visita. Só sai do prateleira quando as visitas chegam. Às vezes, por descuido, servimos a bebida em copos plásticos e sujos, apresentando o que temos de pior. Pintamos o Brasil como se fôssemos a Ruanda em 94, e temos aulas de táticas militares aos 8 anos. E os estrangeiros, ah, pobres estrangeiros! Não sobreviveriam um segundo na selva lá fora. Então os levemos para os nossos shoppings centers, pois uma vez lá, temos certeza que estão "protegidos". De quê? Da violência ou da nossa vergonha?

Mais difícil ainda foi ver que fazemos exatamente a mesma coisa em outras situações, em momentos menos globalizados. Buscamos o valoroso em outras pessoas, outros lugares, quando ele está a um abraço: procuramos risos nas TVs quando nossos amigos estão do nosso lado, carinho e compreensão em estranhos quando nossa família sempre esteve lá quando precisamos, desdenhamos beijos de pessoas queridas por capas de revistas. E tomamos Johnnie Walker quando temos Salinas.

Será que precisamos mesmo do Snoop Doggy para nos falar que somos "beautiful"? Pois é. Também achei que não. Temos que ter cuidado com os copos que usamos ao servir as caipirinhas às nossas visitas. Porque samba, mulata e tiros não pararam lá fora por nada. E valorizemos também os copos que usamos no dia a dia. Se eu estivesse visitando o Brasil, ia preferir os copos de requeijão. Eles são genuínos (não Made in China).

P.S.1: MOMENTO TAMAGOSHI: Os chineses resolveram instalar toldo na casa onde moram em Ipatinga, e solicitaram uma visita técnica do vendedor. Na hora marcada, o senhor se apresenta, tira as medidas, senta e ferozmente faz desenhos numa folha de papel, esboçando transparências e concavidades do que seria o novo abrigo dos asiáticos. Enquanto ele explica o projeto, eu traduzo, apontando o desenho. Em determinado momento, enquanto eu falava sobre as calhas, ele não se contém, e direciona a conversa ao chinês: "sí... acá y acá!".. As feições na minha cara poderiam ser traduzidas desta forma: "?????"... Exatamente em qual momento da História Mundial a Espanha estendeu os seus domínios sobre a China? Quem tiver a resposta, favor me mandar um email. Ainda estou tentando entender a razão de ser do episódio.

P.S.2: Aproveitando o ensejo (sempre o ensejo...), gostaria de desejar a todos um ótimo natal com muita paz, presentes e comida. E que o Ano Novo seja o ano para novas conquistas, novos amores e que todos ganhem na mega-sena. Não querem dividir o prêmio?.. Então vão trabalhar, vagabundos! Temos muito tempo, disposição e oportunidades! É só dizer "sim" ou "não" !