terça-feira, junho 24

Herói

Esses dias tenho tido essa vontade imensa de ser um super-herói. Não um super-herói qualquer, mas "o" super. Alguém na qual os problemas mundanos não o atingissem... Afinal de contas, teria uma obrigação muito mais nobre: salvar o mundo (quando não é o Universo). Não deixaria que problemas como trânsito, ou contas a pagar infernizassem a minha vida. Problemas sentimentais? Que nada! Não teria tempo pra isso... estaria focado no bem da humanidade, quer mais amor do que isso?? Desilusão com "amigos"? Não teria, pois conviveria apenas com arqui-inimigos, e para eles, meus raios de plasma (ou algo parecido)!! Só curtindo o meu alter-ego, tranqüilo, voando pra lá e pra cá.

Ou melhor, escolheria ser um anti-herói de vez! Alguém como Constantine. "Olha... a casa caiu mesmo, então estou oficialmente ligando o foda-se. Não estou nem aí pra nada e pra ninguém, só estou aqui pra saldar umas dívidas com o papai-do céu". Ou o Riddick. O cara tem passagem pela prisão, condenado por assassinato, tem a visão zuada, é fortão e ninja no que faz. Mas quando o lugar enche de mostrengos, ele vacila, e acaba ajudando a moçada. Isso, para mim, se chama nobreza. Ser alguém que não apetece nem a Deus, nem ao capetão. E fazer atos de salvação, mesmo contra a vontade. Mas ainda assim, não ser atingido com os problemas mundanos supra-citados. Viver além dessas coisas que mais nos machucam, e nos fazem envelhecer (ao amadurecer, como preferem os mais líricos).

Mas daí eu penso: sendo um super-herói, no final do dia, você ainda é um cara que usa capa, e as cuecas do lado de fora da calça. Você perambula por aí de máscaras... para isso não é preciso ser super-herói, tem um monte de gente mascarada zanzando por aí. E além de tudo, acaba sendo um solitário, porque se descobrirem que você usa máscara, capa e cuecas do lado de fora, neguinho vai horrorizar, e ninguém vai querer você sequer como amigo, imagina como namorado. E como se não bastasse, imagina ter que pagar o IPVA de um Batmóvel??

Começo a achar neste momento que não existe ato mais heróico do que viver a nossa vida. Conseguir pagar as contas do mês com seguro-desemprego. Põe aí água, luz, telefone, celular, internet e tv a cabo para os mais chiques. Impostos disso e aquilo, cartão de crédito. Passar por problemas familiares, confiar em quem não merece a sua confiança. Cada desilusão, um golpe. Problemas de trabalho quando você tem um, pressão de todos os lados quando você não tem. Quando você é dono de sua empresa, aí que o bicho pega! Caímos a noite por nocaute, mas no outro dia levantamos para poder salvar o nosso mundo. Isso é ser herói. Ter que escutar que não somos bons o suficiente para isto e aquilo, ou de um alguém que não servimos para ela (existem variações sobre o mesmo tema, perfumarias, mas no fundo é isso!). Heroísmo puro. E a melhor parte de estar nesta vida, e não na seção de quadrinhos, é que quando a palafita afunda, olhamos ao redor, e os super-amigos (desculpem, tive que usar isso) estão lá para te dizer: "abaixa o facho, peixe, que a treta não é por aí... o velho oeste está pegando fogo, mas desencana, porque de repente a donzela não quer ser salva agora, ou nem por você". E usamos nosso único super-poder de levantar a cabeça e seguir a vida. Isso sim... é ser um herói.